Encontro de Bois
Segurando a mão de minha avó atravessamos rápido a avenida e de um grande portão escuto batidas de tambor. Descemos a escadaria que leva a uma cobertura de palha onde há várias pessoas em roda, perambulando pelo espaço e ali no centro vejo um animal que Vó diz ser um boi. Fiquei curioso pelo fato do animal ter pernas de gente, então quando o dançante retira aquela veste entendo que não é um boi animal boi, mas sim um boi animal homem. Saímos dali e depois fomo na quitanda logo ao lado e não me recordo mais do dia. Essa é minha primeira memória sobre ter visto o Bumba meu boi, de quando tinha uns 4 anos de vida e morava no bairro Monte Castelo, zona sul de Teresina. Hoje sei que a figura marcante da minha infância era o Boi Imperador da Ilha, um dos mais tradicionais do Piauí, com 88 anos de fundação! Outra memória, essa já com uns 7 anos, foi quando de quando morava em Pastos Bons – Maranhão, e numa festa junina a quadra reunida para receber um boi que veio da capital para se apresentar, vi a encenação da morte do boi, de como aquela gestante queria a língua do animal mais querido do fazendeiro, então seu esposo mata o boi e Catirina tem seu desejo atendido, mas com ajuda de um indígena/pajé o boi ressuscita (ou algo nesse rumo, não pesquisei para manter o que lembrava). Foi meu segundo encanto com essa manifestação cultural tão genuína. Mais recente, tive a oportunidade de testemunhar um encontro de Bois, sim no plural, não um, mas vários e meus olhos brilharam como os de criança. A cultura popular é encantadora para mim e sempre que posso busco colocar para enaltecer meu portfólio. Nesse dia na praça Pedro II fui livre de contratos e sem ideias do que estava por vir, quais histórias seriam entoadas, dançadas, narradas, minha única certeza é que sairia dali com muitas riquezas no meu olhar artístico, muitas inspirações para os meus retratos. Minha intenção ali foi sentir os tesouros visuais da nossa cultura debruçados na minha cara, na minha vista. O Jonathan de 04 anos realmente teve razão em ficar chocado com o aquele bicho colorido, chifrudo, enfeitado e dançante... Fico até hoje.